E a socialização?

Esse talvez seja o assunto mais controverso sobre Educação Desescolarizada. Educadores, amigos e familiares ficam realmente preocupados com as crianças educadas dessa forma e tem medo delas se tornarem ingênuas, “estranhas” ou até mesmo, alienadas da sociedade. Mas antes de apontar alguns argumentos devemos nos perguntar o que é de fato socialização.

O que é?
Socialização é viver em sociedade. É poder conhecer como as relações acontecem em diferentes ambientes e compreender que há diversos fatores que influenciam os relacionamentos: idade, condição social, profissão, interesses, lugares e sexo. É ter a possibilidade de conviver nesses espaços e perceber como essas influências pedem de nós posturas e também posicionamentos diferentes.

Socializar
Viver em sociedade requer muito mais do que conviver em apenas um espaço, com pessoas que tem a mesma idade e condição social, o que normalmente acontece nas salas de aula de uma escola. Os adeptos à Educação Desescolarizada afirmam que é incoerente a Escola, que organiza a convivência entre “iguais”, dizer que promove condições para uma verdadeira socialização. Além disso, como socializar em um ambiente em que a socialização não é a prioridade, mas a aprendizagem formal e técnica? Socializar é mais do que estar em um espaço em que o que se espera de você seja anotar, escrever, ouvir, levantar a mão para participar. Socializar-se nesse ambiente não seria visto como “atrapalhar a aula”? Será que é possível haver socialização nos vinte minutos de intervalo?

Mediador
Outro aspecto é a presença de um mediador. Socializar não é simplesmente colocar a criança em um lugar e permitir que elas interajam aleatoriamente. Isso é "ocupar coletivamente um espaço". Para que haja socialização é preciso participar dessa interação, percebendo as normativas sociais que vão fundamentar os valores e o bom convívio. É uma dinâmica que se sustenta no concordar, discordar, aceitar e se ajustar. Sem um mediador a socialização é apenas um convívio superficial. É uma "grupalização". A realidade das escolas, até mesmo as particulares, é ter um professor para uma quantidade muito grande de alunos e com um objetivo direcionado: aprender e estudar. Como exercer um papel socializador onde o que é esperado do professor seja justamente professar os conteúdos e instruir com conhecimento técnico?

Richard G. Medlin afirma em uma outra pesquisa que "as crianças educadas em casa estão adquirindo as regras de comportamento e os sistemas de crenças e atitudes de que necessitam. Elas têm boa auto-estima e estão propensas a demonstrar menos problemas de comportamento do que outras crianças. Essas crianças podem ser mais maduras socialmente e também tem melhores habilidades de liderança do que outras crianças. Igualmente, parecem estar agindo efetivamente como membros da sociedade adulta."

Conviver ou Brincar = Socializar?
Agora se você pensar que é importante as crianças irem para a escola porque é interessante brincar com outras crianças, aí sim, teremos que concordar. Se formos considerar que é importante uma criança estar perto de outras crianças, não há o que discordar disso. Mas ainda assim, precisamos redefinir alguns pontos. Brincar ou conviver não é "socialização", mas uma parte importantíssima dela. Agigantar o que acontece na escola como socialização é uma falha de percepção. E também não podemos dizer - sejamos francos - que todas as crianças que estão em famílias que praticam a Educação Desescolarizada são socializadas. Há famílias que podem eventualmente falhar nisso. Mas a questão que queremos levantar é: não podemos afirmar que a socialização acontece apenas se crianças forem escolarizadas e nem que a Educação Desescolarizada é incapaz de proporcionar socialização.

Em relação a Educação Desescolarizada, bem... basta acompanhar as famílias que praticam tal modalidade de ensino para perceber como as crianças não passam seus dias trancadas em suas casas estudando com um dos pais. Que não veem a luz do sol ou não se divertem. Inclusive, justamente por não dedicarem de 5 a 8 horas ao estudo formal por dia é que essas crianças tem muito mais oportunidades de frequentarem outros espaços que a maioria não pode e, sim, serem socializadas. Famílias Homeschoolers tem mais possibilidades de tirarem proveito de eventos culturais, parques, comunidades religiosas, feiras, museus, festivais, espaços públicos e comerciais do que a maioria das famílias que tem crianças escolarizadas (e ainda, atarefadas com projetos, provas e exercícios extras).

As famílias Homeschoolers, em sua maioria, criam Grupos de Apoio, onde elas combinam passeios, visitas e encontros. As crianças interagem com outras crianças, visitam diversos lugares e brincam e se socializam por mais tempo que crianças escolarizadas. Há grupos em que os encontros são semanais ou quinzenais e algumas atividades ou projetos são compartilhados. (Sugerimos que você visite a nossa sessão SITES e BLOGS)

Bom para as crianças ou bom para os adultos?
Outro fator importante é discutir a real necessidade da criança precisar estar cercada diariamente com outras crianças por metade do dia. É um equívoco pensar que crianças sentadas em carteiras e fazendo atividades de colorir e seguindo uma rotina fora de casa é prioridade para o desenvolvimento delas. Repetimos: não que não seja bom e saudável elas estarem com outras crianças para brincar e conviver, mas isso não pode ser visto como a prioridade para o desenvolvimento delas. Crianças precisam de cuidados, tempo, conversa, convívio, suporte, amparo e zelo. E isso é mais evidente e relevante com um adulto. Crianças não dão segurança para outras crianças. E um professor com outras 10 ou 20 crianças também não pode oferecer isso em plenitude. Esse argumento acaba por convencer muitos adultos que a sua presença (como pai ou mãe) é substituível, descartável e saudável (!) para as crianças. E isso cada vez mais cedo com o objetivo de torná-las "independentes", o que é amplamente questionável, visto que a segurança e a autoimagem da criança depende justamente dessa "dependência" e heteronomia durante a infância.

Muitos adultos acreditam, inclusive, que o entretenimento de um ambiente ou a presença de diversas crianças irá fazer com que os filhos sejam mais seguros, tolerantes e inteligentes. A pergunta que nos fazemos passa a ser... "essa argumentação de que a socialização escolar seria realmente necessária é para benefício das crianças ou dos pais? Para as crianças ou apenas para dar suporte para as dinâmicas econômicas e sociais da nossa época? Gláucia Misuki, Pedagoga e Educadora Domiciliar afirma "Neste período da vida a criança precisa muito mais da afetividade e de um ambiente familiar, do que interagir com 30 ou 40 outras crianças da mesma idade e de um adulto ditando as regras".

Larry Shyers, em sua tese de doutorado, demonstra que o contato com adultos é mais importante para o desenvolvimento de habilidades sociais em crianças do que elas conviverem com outras crianças. Não que não seja bom crianças conviverem com outras crianças, mas queremos apenas equilibrar aqui a importância disso. Em sua pesquisa, as crianças homeschooling apresentaram menos problemas comportamentais do que as escolarizadas.

Se de fato crianças se tornassem mais seguras e soubessem enfrentar melhor os desafios da vida ao entrarem cada vez mais cedo nas escolas, não haveria um aumento tão significativo de crianças e adolescentes com doenças emocionais e afetivas nas escolas. Não haveria um ambiente tão repleto de delinquência, ansiedade e insegurança. Converse com professores e educadores e veja como as crianças nas escolas tem manifestado carência e uma diversidade de distúrbios. A escola, por si só, não é capaz de oferecer uma socialização saudável.

M.H.S.


(Sugerimos que você visite a nossa sessão de ARTIGOS E TESES para ler sobre o que estudiosos e pesquisadores apontam sobre a socialização e outros assuntos)

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre a socialização...
É importante ressaltar também que, criança precisa ser direcionada por adulto, e não por outra criança.

É o adulto que incuti valores e princípios no processo de formação da criança. E isso deve ser feito de uma forma bastante particular, porque cada indivíduo é único e tem suas peculiaridades.

Através do bom direcionamento (de adultos, preferencialmente os pais) a criança terá boas condições de conviver em sociedade, atuando de forma ética e responsável.